Setor de locação pode adotar diferentes medidas protetivas, com o objetivo de evitar prejuízos financeiros oriundos da ação de infratores
Locadoras de máquinas e equipamentos estão sujeitas a diferentes tipos de golpes e fraudes que causam significativos prejuízos financeiros. Conhecer como indivíduos mal-intencionados atuam e entender as possíveis brechas são formas de evitar ser uma vítima de atos desonestos. Além disso, existem muitos outros cuidados passíveis de adoção com o objetivo de tornar totalmente segura e confiável a relação com os locatários.
Uma das situações que acontecem no mercado, apesar de não muito frequente, é o cliente receber o bem e depois “sumir” para não o devolvê-lo. “Segundo dados da Associação Brasileira de Locação de Bens Móveis (ALEC), este indicador está entre 0,5% e 1,5% em relação ao ativo total do locador em 12 meses”, conta Bruno Arena, diretor de Expansão da Casa do Construtor.
“Por menor que seja, existe um percentual e o volume de fatos como esse tem aumentado. Se considerarmos que temos em torno de 50 mil máquinas da linha amarela nesse mercado, algo como 0,1% já é um volume expressivo de equipamentos”, opina Eurimilson Daniel, presidente da Escad Rental, revelando que sua empresa foi vítima duas vezes de problemas nesse sentido.
Entre os equipamentos mais suscetíveis à golpes, figuram os movidos a combustíveis, como compactadores de solo, placas vibratórias e cortadoras de piso. Nessa relação, também estão as máquinas com pneus por serem mais fáceis de transportar. Porém, segundo Daniel, esse é um paradigma que se quebrou e hoje existem quadrilhas especializadas no furto de máquinas que chegam nos canteiros dirigindo carretas, colocam o equipamento no veículo e vão embora.
Outros golpes
De acordo com Arena, a maioria dos golpes ocorre com o uso de documentos fraudulentos para realizar a locação e não devolver o bem. Já Daniel enumera algumas situações que podem acontecer. “Precisamos ter cuidado com a troca de componentes. Por exemplo, mandamos a máquina com pneus novos que são substituídos por usados antes da devolução do bem”, afirma o presidente da Escad Rental, indicando que isso também ocorre com peças mais caras.
Outros problemas são quando o cliente usa uma empresa “laranja” para não pagar a locação e o re-rental (locatário que recebe a máquina para realugá-la para outra empresa — ação que gera uma perda de controle no uso do equipamento). Também é importante ter atenção em relação ao trabalho que será realizado. “Muitas vezes, o locatário informa que vai executar um serviço leve e direciona a máquina para locais com condições que depreciam o bem”, afirma Daniel.
Como se prevenir
Com tantos golpes capazes de gerar danos financeiros, as locadoras podem adotar algumas medidas para tentar se proteger. Investigar melhor o cliente, confirmar os dados cadastrais, visitar a obra para verificar se o canteiro existe de fato, ligar para a empresa e conferir se os dados de seu site são verídicos são alguns dos cuidados que devem ser adotados. Apesar de parecerem ações simples, quando reunidas diminuem bastante as chances de uma fraude.
“Toda semana escutamos de pessoas do mercado comentários sobre tentativas de golpes”, conta Daniel. “Acredito que um cadastro completo, que contenha todos os dados de quem vai fazer a locação, é uma importante ferramenta para prevenir este tipo de ação. Destaco, ainda, a importância de reforçar o ciclo de revisão do crédito oferecido ao cliente cadastrado na base de dados”, complementa Arena, recomendando que as locadoras participem de grupos de comunicação nos quais é possível realizar consultas em casos que se mostram mais suspeitos.
“Os golpes costumam acontecer em sequência e com várias locadoras. Sempre há alertas circulando e que podem servir como ajuda na averiguação de qualquer situação”, fala Arena. Além de apostar na comunicação, existem precauções que envolvem a própria máquina. É o caso de identificação personalizada dos equipamentos e a instalação de dispositivos para o rastreamento do bem que permitem verificar se a máquina realmente está no local previsto.
Também é interessante identificar os componentes fisicamente na máquina e pintar as peças principais para evitar que sejam comercializadas. “E mais: se o operador for contratado pelo próprio cliente, pode ser importante identificá-lo e conhecê-lo pessoalmente”, indica Daniel.
Fui uma vítima, e agora?
Mesmo adotando todos os cuidados, a locadora pode ser vítima de um golpe e precisa agir rapidamente caso isso aconteça. A primeira medida é acionar as autoridades públicas, informando a polícia e registrando o boletim de ocorrência. Na sequência, o próximo passo consiste na procura por caminhos que possam levar a recuperação do equipamento — como buscar câmeras de segurança na região do sinistro e dialogar com quem estava no local.
Caso o contato para locação tenha sido feito por aplicativos de mensagens, como o WhatsApp, revisitar a conversa para buscar o máximo de informações que podem ajudar é uma boa ideia. “Além disso, volto a ponderar que um cadastro bem-feito, além da checagem de informações junto aos órgãos de proteção ao crédito também podem ajudar na prevenção. Outro ponto seria o locador dispor de sistema de reconhecimento facial como o dos bancos”, ressalta Arena.
Também é prudente acionar o dealer e informar o número de série da máquina. Isso impede que os golpistas consigam remover as peças para comercializá-las. “Se a locadora tiver a sua frota fotografada e as máquinas contarem com algum detalhe único, também pode ajudar”, afirma Daniel. No entanto, apenas um adesivo não funciona — pois pode ser retirado. Já uma pintura precisaria da aplicação de outra tinta por cima e caso alguém do setor encontre um equipamento repleto de cores diferentes pode entender que se trata de um bem extraviado.
“A divulgação de roubos e golpes nas redes tem sido muito comum, mas não vejo eficiência. As pessoas comentam e compartilham nos grupos, mas sem um retorno efetivo”, opina Daniel.
Seguros
A contratação de seguros para o aluguel de máquinas e equipamentos é assunto que vem passando por mudanças nos últimos 15 anos. Nesse período, segundo Daniel, o mercado observou um crescimento muito grande de sinistros para as seguradoras e essas empresas estão subindo a régua. “Quero dizer que estão eliminando alguns pontos que antes faziam parte da cobertura. É o caso de canteiros localizados na fronteira do país, regiões de alto risco e beira de lagos”, enumera. Furtos também não estão cobertos (precisa ser roubo qualificado).
“As seguradoras alegam que estão lidando com esse prejuízo, mas nunca mostraram números abertos para o nosso setor”, ressalta Daniel, indicando que outro cuidado na contratação de um seguro é o alinhamento de documentos da locação e da apólice. Caso a locadora informe que o equipamento será usado em uma localidade e acontecer o roubo em outra, o seguro não vai cobrir. “Todos cuidados foram transferidos para o locador e para o cliente dele”, completa.
Além disso, existe o DDR (direito de regresso) em que a seguradora pode cobrar do cliente da locadora caso a máquina tenha sido roubada e o locatário não cumpriu o que estava exposto no contrato. “Isso distancia o cliente do locador, porque as exigências são muitas. Imagina ter equipamentos vigiados 24 horas ou um canteiro fechado com corrente e cadeado”, diz Daniel.
Com tudo isso, as variáveis de preço são elevadas. Enquanto a cotação em uma empresa com condições mais restritas pode ser de R$ 10 mil, outra seguradora que oferece contrato pouco melhor pode cobrar R$ 50 mil. Nessa situação, cabe a locadora avaliar o risco e os custos que estão envolvidos — e, dependendo do valor do bem, assumir o prejuízo no caso de fraudes.
“Vejo com preocupação a relação do seguro com nosso setor. Os custos que estão sendo praticados e as dificuldades que temos. Prevejo dificuldades no futuro e espero que as seguradoras consigam encontrar um caminho para oferecer produtos viáveis para todos — e que tenhamos consciência de utilizá-los com responsabilidade. É necessário estarmos sempre dispostos em favorecer todos os envolvidos, inclusive as seguradoras”, expressa Daniel.
Atenção nas negociações
Durante as negociações para locação, é obrigação do locador inserir no contrato dados da apólice de seguro — caso exista. Porém, se os serviços da seguradora não foram contratados, devem ser criadas regras de segurança. Por exemplo, que impeçam que a máquina passe a noite abandonada na rua, ou então, que prevejam a instalação de dispositivos que impeçam o funcionamento do equipamento ou seu transporte para fora do perímetro pré-estabelecido.
O locador precisa, ainda, se atentar a alguns dados fornecidos pelo locatário a fim de evitar golpes. “Em caso de pessoa jurídica, verificar o contrato social no qual consta a data de abertura da empresa, além dos dados dos sócios. Já se o locatário for pessoa jurídica, é importante checar se o CPF e o comprovante de endereço são verdadeiros”, diz Arena.
Locadoras pequenas ou grandes
Independentemente do tamanho da locadora, todas estão sujeitas a se tornarem vítimas de golpes, fraudes ou roubos. As maiores, muitas vezes, acabam sofrendo por conta da grande frota, mais difícil de ser acompanhada. Já as pequenas têm a facilidade e a flexibilidade de verificar mais de perto como os seus equipamentos estão sendo usados para evitar problemas.
“Entendo que a diferença é o acesso a cuidados preventivos de segurança que uma empresa com mais recursos pode adotar. Exemplo é o seguro mais caro, ou então, um sistema de rastreamento com tecnologias como telemetria e cerca digital. Mas, no final, estamos juntos no barco, navegando pelo mesmo oceano e enfrentando tempestades”, conclui Daniel.