As plataformas de trabalho aéreo foram introduzidas no mercado nacional no final da década de 1990. Solução que se destaca por colaborar com a produtividade e a segurança, ainda tem um grande potencial de crescimento no mercado nacional. Segundo Paulo Esteves, diretor da Nest Rental, atualmente o número de equipamentos do tipo no país não chega a 40 mil. “Se a situação estivesse mais ou menos normal nesse setor, o número poderia ser de 90 mil”, diz.
O cenário fora do comum mencionado pelo profissional envolve a retomada no pós-pandemia. Nessa época, houve um problema de oferta de vários equipamentos, incluindo as plataformas de trabalho aéreo. Em 2022, as atividades foram aos poucos retornando à normalidade, mas os dois anos de paralisação fizeram com que as locadoras diminuíssem os investimentos em novos bens e reduzissem as atividades de manutenção das máquinas que já integravam suas frotas.
“Quando em 2022 começou a surgir demanda, além de a indústria e o comércio voltarem a funcionar, houve um aumento na procura por esses equipamentos e os preços de locação que estavam muito baixos começaram a subir. Mas, os empresários desse segmento talvez tenham feito uma leitura errada e entendido que existia uma tendência de demanda a médio prazo — entretanto, na verdade, não foi isso o que realmente acabou acontecendo”, relembra Esteves.
Naquele mesmo ano, muitas máquinas chinesas entraram no mercado nacional. De acordo com o diretor da Nest Rental, mais de 50% dos equipamentos que chegaram ao país vieram da nação asiática. Assim, a situação se inverteu: começou a ter muita oferta para atender a uma demanda que já vinha crescendo pouco, mas não na velocidade esperada para esse segmento.
“Tivemos em 2022 uma entrada de máquinas no país como há muito tempo não acontecia, foram pouco mais de 5 mil equipamentos. E acontece que esse mercado hoje está super abastecido, condição que levou a uma ligeira queda nos preços de locação. Podemos dizer que esse é o cenário das plataformas de trabalho aéreo atualmente no Brasil”, detalha Esteves, indicando que, em média, essa diminuição de valores atingiu porcentagem em torno de 10%.
Uma solução em alta
Empresa que iniciou as atividades de sua divisão de plataformas elevatórias para trabalhos em altura há um ano, a Tecnogera vem observando um crescimento dessas operações. “A busca por essa solução está se consolidando como tendência por uma série de fatores”, fala Rebekah Curi, gerente de Negócios da Tecnogera, informando que a expectativa é que essa divisão seja responsável por uma participação entre 20% e 30% no faturamento da companhia em 2023.
Para a profissional, o avanço se justifica por conta das vantagens oferecidas pela solução. É o caso, por exemplo, da maior tranquilidade para a execução dos diferentes trabalhos em altura. “Por serem mais modernas, contam com sensores, como o antiesmagamento, que minimizam acidentes, além de operarem de maneira precisa e eficiente”, conta. Além disso, de acordo com o modelo, podem elevar um ou mais operadores — sempre dentro dos padrões de segurança.
São equipamentos que possuem todas as certificações exigidas pelo mercado, assim como oferecem maior autonomia e agilidade — permitindo que as equipes alcancem o melhor desempenho de suas funções. “Por serem 100% elétricas e movidas a bateria de lítio-íon, não emitem fumaça e nem ruídos, permitindo a operação em ambientes fechados e em diferentes pisos”, destaca Curi, mencionando que também não precisam ser abastecidas com diesel.
Quais são as maiores demandas
Por conta da sua versatilidade e autonomia, a plataforma elevatória de trabalho aéreo pode ser utilizada nos mais diferentes setores. Porém, aqueles que respondem pelas maiores demandas são a indústria, o varejo e o agronegócio. Destaque, também, para a construção, que emprega o bem na execução de projetos comerciais e industriais (incluindo as reformas). “Em obras residenciais, esse tipo de equipamento não costuma ser muito utilizado”, comenta Esteves.
Já em relação às alturas mais procuradas, existem diferentes tipos de máquinas. A Tecnogera, por exemplo, oferece plataformas nos modelos articulada e tesoura, sendo que a opção com maior alcance eleva os profissionais a 44 metros — o equivalente a um prédio de 15 andares. “De acordo com a necessidade do cliente, como altura a ser alcançada, tipo de terreno e movimentação, os nossos profissionais especializados indicam a alternativa certa”, afirma Curi.
Existem, ainda, as plataformas low level que têm a faixa de 4 a 6 metros de altura como a mais buscada atualmente. Vale destacar que os números representam a altura de trabalho, ou seja, o nível de 6 metros é onde a mão do operário alcança e não onde ele pisa. “Temos, também, alguns modelos para demandas específicas que chegam a até 10 metros no máximo. Mas, são máquinas diferentes que pedem, por exemplo, a colocação de algumas patolas”, conta Esteves.
As plataformas low level, geralmente, têm movimentação manual. Porém, existem aquelas autopropelidas que chegam a pesar até 1.000 kg e são máquinas parecidas com as tesouras.
Plataformas para baixas alturas
Os equipamentos de baixas alturas não competem com as tesouras. Na avaliação de Esteves, algo em torno de 5% das aplicações das tesouras elétricas poderiam ser realizadas com essas máquinas. “As plataformas tradicionais chegam a alturas de trabalho a partir de 8 metros, enquanto as soluções do tipo low level atendem a níveis de até 6 metros”, compara.
A demanda por esse modelo de solução é bastante grande, afinal pode ser empregada em toda situação em que se usa uma escada. Com peso variando entre 150 kg e 500 kg, são máquinas muito compactas e de empurrar em sua maioria (existindo até alguns com manivela manual para alturas baixas). Atendem, basicamente, às atividades executadas até certo período da obra (quando as alturas chegam a até 5 metros), como a instalação de forros ou da iluminação. Podem ser utilizadas, também, pelas empresas de facilities em muitos dos trabalhos diários.
“Entretanto, a má notícia é que se trata de uma demanda muito fragmentada. Não é que você utiliza uma força de vendas convencional que vai procurar clientes e bater na porta oferecendo o produto. Assim, o ticket médio da low level é baixo e são máquinas muito baratas. Para entrar nesse negócio, tem que ter foco (com uma estratégia pensada especialmente para esse cenário) e contar com a tecnologia. É preciso, ainda, atenção com a manutenção, pois se a plataforma quebra na operação, o conserto consome quase o valor da locação”, avalia Esteves.
Apesar das dificuldades, quem apostar nesse tipo de solução pode estar se adiantando em relação ao restante do setor. “Nesse negócio, sou obrigado a fazer as mudanças hoje, enquanto a maioria das outras empresas do segmento fará as alterações daqui 10 anos”, opina Esteves.
Como está o mercado nacional da low level
As plataformas low level conquistaram relevância na Europa, principalmente na Inglaterra, país em que a demanda representa algo em torno de 10% de plataformas aéreas. Por outro lado, no Brasil, essa relação ainda é muito baixa. “Em um universo de 40 mil máquinas, estamos com menos de 1% ainda”, indica Esteves, apontando a dificuldade de convencer o usuário a mudar de concepção. “Mas, olhando para frente, é possível chegar em 5% da demanda”, acredita.
Para ele, o problema de desenvolvimento no Brasil tem muita relação com a mentalidade dos locadores. Existe demanda para, pelo menos, 80 mil equipamentos no país, enquanto temos atualmente 40 mil. “Isso porque falta inovação. Por exemplo, novos concorrentes que entram no mercado, ao invés de estudarem e vislumbrarem alguma oportunidade, todos preferem contratar vendedores do concorrente para bater na porta dos clientes e oferecer equipamento por preço mais baixo. Assim, o setor anda de lado e os preços acabam caindo. O empresário não investe tudo o que pode e vários segmentos continuam sendo mal atendidos”, analisa.
Preparação da mão de obra
Tanto a Nest Rental quanto a Tecnogera alugam o equipamento sem o operador. Porém, ambas as empresas oferecem treinamentos para a mão de obra. “Disponibilizamos a capacitação por meio de um curso com duração de quatro horas, em que o profissional tem acesso a conteúdo teórico e prático. No fim, recebe a certificação”, conta Curi, comentando que tem observado no mercado um movimento de busca por qualificação para atuação nas plataformas elevatórias.
“No nosso caso, criamos um canal de ensino à distância em que o operário pode acessar para assistir ao conteúdo via web, fazer a leitura do material didático e realizar uma prova no final. Essa iniciativa atende a todas as determinações do Ministério do Trabalho”, detalha Esteves.
O que esperar para o futuro
Olhando para o futuro nesse segmento de plataformas de trabalho aéreo, uma boa aposta de tendência é a eletrificação (substituição dos equipamentos a combustão pelos elétricos). Também é possível que ocorra uma maior busca por opções mais compactas, baterias com maior durabilidade e máquinas com telemetria para a caminhada rumo ao digital. “Além disso, tem a questão da sustentabilidade, por exemplo, com sistemas livres de óleo”, diz Esteves.
Na tentativa de prever o que deve acontecer nesse mercado nos próximos anos, Curi aponta para a consolidação do uso de plataformas elevatórias movidas a bateria pelos mais diferentes segmentos. “As plataformas estão substituindo modelos de trabalho em altura como andaimes e rapel, modalidades que demandam enorme tempo para montagem e desmontagem, além de oferecer riscos aos trabalhadores”, afirma. Outro diferencial dessa solução é a versatilidade, fazendo com que a mesma plataforma possa ser utilizada em ambiente interno e externo. “Por serem movidas a bateria, sem uso de diesel, não há emissão de fumaça ou ruído”, conclui Curi.