Equipamentos demandam projeto e execução criteriosos para proporcionar a total segurança dos operários que os utilizarão para a realização de trabalhos em altura
Entre as cenas mais habituais nos canteiros de obras está o trabalho em altura permitido por andaimes e balancins. Essenciais para diferentes atividades no setor da construção civil, esses equipamentos demandam muito cuidado nas fases de projeto e montagem — intrinsecamente relacionadas com a segurança dos operários. Menosprezar a atenção necessária para execução de uma estrutura estável e confiável é flertar com acidentes que têm potencial de serem fatais.
Segundo o engenheiro de segurança do trabalho Leopoldo Braga de Melo Filho, proprietário da MM Locações, a construção civil vem passando por mudanças quando o assunto é a segurança na montagem de andaimes e balancins. “A evolução foi significativa na última década. Tanto por conta do aumento da fiscalização por parte do Ministério do Trabalho quanto pela maior conscientização por parte das construtoras em investir no capital humano e treinamentos”, diz.
Ainda de acordo com o especialista, todos ganham com a transformação. “Devemos lembrar sempre que o mais importante é garantir a integridade física dos trabalhadores”, ressalta. Nesse sentido, a concepção de um bom projeto é o primeiro passo, com detalhamento de alto nível e considerando que cada montagem tem riscos e particularidades distintos. O sucesso nesse trabalho passa pela análise das características do canteiro que receberá o equipamento.
Vale considerar, também, que durante a montagem do andaime ou balancim podem acontecer divergências entre o planejamento e a execução. “Dificilmente o equipamento será 100% igual ao que foi projetado. Sempre existem alguns detalhes não previstos que demandam ajustes”, comenta Manuel Rohe, fundador do Instituto do Andaime — Indan Brasil. O impacto dessas adaptações deve ser avaliado, assim como é necessário pedir o parecer do profissional legalmente habilitado que responde pelo projeto e pela execução da montagem.
Critérios de segurança
A correta montagem de andaimes e balancins começa antes mesmo da chegada de qualquer peça do equipamento no canteiro de obras. Para desenvolver um bom projeto, a atividade inicial é a visita técnica no local que receberá a estrutura para avaliação do espaço. A coleta de informações serve como base para elaboração do melhor planejamento. “Posteriormente, com o projeto em mãos, o engenheiro responsável deverá se reunir com a equipe devidamente treinada para analisar riscos e particularidades — para aí sim iniciar a montagem”, fala Braga.
Durante o processo executivo, existem variados critérios de segurança que precisam receber atenção. Por exemplo, para assegurar a estabilidade é preciso considerar os limites de carga, efeitos climáticos, ancoragem e dimensões da estrutura. Outro cuidado está no uso correto de componentes como os elementos horizontais e diagonais para contraventamento, da mesma maneira que as peças que cumprem a função de conexão (cunhas, discos e/ou braçadeiras).
Na relação de precauções também estão as plataformas de trabalho e acessos, concebidas de acordo com o tipo de atividade a ser executada — e sem esquecer do fechamento perimetral no caso de aberturas. Rohe indica outros pontos que merecem um olhar mais atento. “Nos andaimes suspensos, é preciso avaliar onde o equipamento será fixado/pendurado e se essa estrutura resiste ao conjunto de cargas, que podem ser próprias, de trabalho ou do vento”, diz.
Em relação ao quesito ancoragem, sempre deve-se ter cautela com os andaimes e balancins que não a possuem. “Isso porque a maioria dos acidentes ocorre justamente com estruturas como essas, sendo que muitos deles — inclusive fatais — acontecem pela queda de operários de baixas alturas, como três ou quatro metros”, adverte Rohe, lembrando que as torres fixas e móveis sem ancoragem pedem a realização de cálculos dependendo da altura. Esses números indicam se os limites de carga estão na faixa compatível com o trabalho que será realizado.
Para não errar na ancoragem, alguns itens básicos precisam ser atendidos literalmente. “É o caso da carga mínima de 1.500 kgf — conforme exigência da NR-18 (com a realização de ensaio de tração); obedecer à quantidade de grampos (clips) e o sentido da instalação, conforme o item 4.2 da NBR 6494; realizar a amarração em elementos estruturais e independentes da edificação; e a proteção dos cabos de aço e das cordas de poliamida (linha de vida) contra os cantos vivos”, ressalta Braga. Além disso, em cidades litorâneas é preciso realizar inspeções periódicas nos pontos de ancoragem metálicos por conta da ação da maresia sobre as peças.
Fatores naturais
Cada vez mais, fenômenos naturais representam um risco para a segurança de trabalhadores que atuam sobre andaimes e balancins. É o caso de fortes ventanias que podem representar um risco para a integridade da estrutura. “Esse assunto precisa ser levado muito a sério”, comenta Braga, destacando que existem várias formas de minimizar esse problema. “Fica a critério do engenheiro responsável pela montagem definir a melhor saída”, complementa.
Em balancins, solução comum é a instalação de cabos guias esticados para evitar o movimento de pêndulo do equipamento em uma possível ventania. “Outros elementos que garantem a segurança são os pontos de ancoragem. Mas, quando não existem — como nos andaimes móveis —, é necessário incluir contrapesos e realizar memoriais de cálculo para atestar a integridade”, recomenda Rohe. “Com a alta imprevisibilidade do clima, é necessário sempre projetar o andaime para resistir a ventanias fortes e nas piores situações possíveis”, completa.
Preparando a montagem
A altura do andaime ou balancim não influencia na montagem, mas engana-se quem acredita que equipamentos posicionados de modo mais baixo demandam menos preocupação. “Não se deve diferenciar o risco de queda baseado apenas na altura. Como engenheiro de segurança, já fiz perícias de acidente com óbito onde o colaborador sofreu queda da primeira laje (2,95 metros)”, conta Braga. A norma NR-35, em seu item 35.2.1, determina que o trabalho em altura acontece a partir de 2 metros em relação ao nível inferior e com o risco de queda.
“Normalmente, os profissionais têm maior respeito nas montagens mais altas e tendem a seguir os procedimentos de segurança com muita atenção nessas situações. O perigo reside nas montagens mais baixas e básicas, quando as pessoas pensam que não tem problema se cair. Porém, em muitos casos, as consequências são severas mesmo em baixas alturas”, avalia Rohe, recomendando o atendimento aos procedimentos de segurança em qualquer altura.
Pensando nos equipamentos de segurança que devem ser montados junto dos andaimes e balancins, a linha de vida é considerada o melhor amigo do montador por conta do risco elevado. Assim, na análise do ambiente, aconselha-se considerar a possibilidade de instalação de linhas de vida horizontal e/ou vertical. “O fato é que o montador precisa — em toda a sua operação — estar fixado nessa linha e independente da estrutura do andaime”, orienta Braga.
Já a mão de obra envolvida no processo de montagem precisa estar devidamente treinada para a atividade e ter conhecimento sobre as normas regulamentadoras, como as NR-35 e NR-18. Além disso, os profissionais têm que estar aptos para realizar trabalhos em altura e o canteiro precisa passar pela análise de riscos para a listagem das medidas que eliminem possíveis ameaças ou que minimizem as consequências de perigos, segundo a hierarquia da NR-35.
Rohe afirma que, primeiramente, é preciso se pensar em um Sistema de Proteção Coletivo contra Quedas (SPQC). “Normalmente, a primeira coisa que vem à cabeça é o Sistema de Proteção Individual contra Quedas (SPIQ) e isso é errado”, expressa o profissional. Para ele, o setor também tem que se preocupar com a formação da mão de obra e criar incentivos para captar jovens interessados em se especializar para atuar no setor de andaimes e balancins.
“Na Alemanha, o curso de formação do montador de andaimes demora três anos. É um sistema de ensino dual, em que os jovens passam um período nas empresas para atividades práticas e um outro tempo nos centros de formação espalhados pelo país para aprender a teoria. Mesmo assim, por lá há dificuldades para se ter mão de obra qualificada”, conta Rohe.
Erros principais
Na opinião de Braga, o principal erro na montagem de andaimes e balancins é a ausência de projeto ou o planejamento mal elaborado. O especialista destaca que essa etapa, quando bem realizada, permite o sucesso em áreas como a boa comunicação com a equipe, implementação de cronogramas mais assertivos, definição de prioridades e gerenciamento de riscos. “Não existe ‘receita de bolo’ na confecção de projetos para montagem do equipamento”, afirma.
Já para Rohe, muitos erros têm origem no desrespeito às questões básicas, como ancoragens insuficientes ou executadas de modo equivocado. É possível mencionar, ainda, a retirada indevida de peças, como guarda-corpos e rodapés para permitir o içamento de materiais. E mais: no caso de andaimes com balanço, os limites de carga raramente são respeitados.
Inspeções
A finalização da montagem não significa que a atenção com a segurança está encerrada. Com a estrutura pronta, a próxima etapa envolve as inspeções que indicam se o equipamento está de acordo com os manuais do fabricante, normas e projeto. “Sempre falo nos cursos que a norma é o mínimo que precisamos cumprir. Esses documentos não ensinam o estado de arte na área dos andaimes, mas estabelecem as exigências mínimas que precisam ser sempre cumpridas”, explana Rohe.
Muitos acidentes com andaimes ou balancins acontecem porque não foram feitas avaliações antes de iniciar o uso do equipamento. Essa verificação pode ser visual, realizada com um checklist específico e registro fotográfico. Tal cuidado precisa ser diário, para afastar a possibilidade da retirada indevida de componentes pelos usuários do andaime ou por terceiros no canteiro de obras. Toda modificação pode gerar riscos, sendo assim o acompanhamento frequente fundamental para garantir a segurança.
“Após eventos climáticos, essa análise deve ser ainda mais completa. Nesse caso, precisam ser avaliados os encaixes, pontos de ancoragem, elementos estruturais (como postes, travessas e diagonais), bases de apoio e outros elementos. Segurança em primeiro lugar”, conclui Rohe.