Tornar o aluguel de equipamentos um negócio escalável em qualquer parte do país é tarefa desafiadora. Conheça as diferentes realidades da atividade em Manaus e Santa Catarina
Ah, o Brasil e seus muitos Brasis. Um país de dimensões continentais com realidades tão diversas, que chega a ser missão hercúlea conviver com a complexidade econômica, social, cultural, tecnológica e ambiental de cada região. Do extremo Norte ao Sul, o setor de locação de equipamentos para construção reflete essa diversidade e tem ainda muito o que aprender e crescer com tudo isso. E a integração e troca de experiências tem sido um dos principais objetivos do grupo Locadores Br em todas as suas atividades.
Ewerton Martins, diretor executivo da Engeloc de Manaus, é um dos melhores exemplos de que organização, planejamento e muita resiliência formam a base das histórias de sucesso. Sua locadora, a Engeloc, com mais de 15 anos de atuação e considerada uma das mais bem estruturadas da região, atende a capital e o interior do Amazonas, além de Roraima, Rondônia, Santarém e boa parte do Acre.
“Aqui no extremo norte os desafios do rental são gigantescos,” conta Martins. “Enfrentamos sistematicamente o problema da sazonalidade do clima com longos períodos de chuva durante o ano. E até recentemente, prevalecia a cultura de tocar as obras apenas nos períodos de sol. Nem preciso dizer o quanto isso foi, por muito tempo, um complicador para a sobrevivência não só das locadoras como de outros fornecedores e prestadores de serviço. A nossa saída foi investir num amplo mix de produtos para atender as obras em suas várias etapas, do início ao fim, fugindo assim da sazonalidade e mantendo a receita.”
Do portifólio da Engeloc hoje fazem parte 160 produtos, com destaque para os que atendem ao setor imobiliário, como os equipamentos de elevação de carga, elevadores cremalheira, balancins, equipamentos de compactação e demolição entre outros.
Para Martins, uma estratégia fundamental de atender as necessidades do mercado está na programação trimestral de compras de máquinas e peças. “Temos ainda que garantir um estoque de segurança exatamente para suprir os períodos em que a demanda aumenta,” revela o empresário.
Pesadelo logístico
Em toda a região norte, a logística é um desafio constante devido à vastidão territorial, com imensas distâncias entre os grandes centros urbanos, além das condições geográficas difíceis. O transporte de equipamentos, peças e outros suprimentos costuma ser demorado e custoso, especialmente em áreas remotas com estradas em condições muito precárias ou onde só se tem acesso por barco.
“Geralmente a alternativa é a cabotagem, ou seja, transporte que vem de um porto a outro dentro do país,” explica o diretor da Engeloc. “Nesse caso, os equipamentos e peças costumam chegar via terrestre até Belém ou Porto Velho e depois são transportados por balsa até Manaus. Para se ter ideia, quando tudo ocorre dentro da mais perfeita normalidade são 20 dias para o equipamento chegar até Manaus. Outros podem levar até 60 dias, como os que vem dos estados do sul, por exemplo.”
As situações são das mais adversas. “No ano passado ficamos quase 20 dias sem qualquer abastecimento por balsas, que encalharam no trajeto em função da seca”, relata Martins. “Esse ano de 2024 estamos na iminência de outra grande seca. Por isso tenho que trabalhar com programação e visão de longo prazo, sem falar dos outros desafios que todos nós enfrentamos no rental, como mão de obra, capacitação, pós venda, altos valores de aquisição etc”.
Ainda assim, a Engeloc garante a entrega na região metropolitana de Manaus. “Para os municípios sem acesso terrestre deixamos no porto e o frete corre por conta do cliente. “Não há outro jeito. Mas para o cliente que precisa transportar por balsa damos sete dias de locação estipulados em contrato, gerando um ponto de equilíbrio para o cliente e para a Engeloc”.
O transporte aéreo para aquisição de pequenos equipamentos e peças se torna uma alternativa, apesar do elevado custo, segundo Martins. “Apesar do alto custo, é uma opção, em função da urgência de cada cliente. Mesmo com o transporte aéreo, o normal são cinco dias úteis até o equipamento chegar às nossas mãos e ser entregue ao cliente. Se não tivermos muito planejamento, todo nosso trabalho de pós-venda e back office fica comprometido e esse é um dos nossos principais diferenciais competitivos”.
Para manter a empresa constantemente em alta, Martins não poupa esforços nem distâncias. Participa de todos os eventos do setor de locação, faz contatos com parceiros de outros estados e procura sistematicamente aprender com eles. “Fazemos o possível para acompanhar tendências, novidades, tecnologia, boas práticas, além de realizarmos um bom benchmark. Tudo isso para levar o melhor para nossa região”, conta.
Fabricação e mão de obra
Martins faz toda a lição de casa proposta pelo Grupo LocadoresBr, que tem sido de grande valia para todo o setor de rental. “Vendemos agilidade, qualidade e disponibilidade para o cliente, mesmo numa região do país onde a maioria dos fabricantes não tem pontos de venda e abastecimento para nos dar suporte. Foi preciso encontrar novas alternativas para suprir essa falta e por isso decidimos fabricar internamente alguns itens. São poucos, mas faz uma grande diferença para o nosso mix, como containers para nossa própria demanda, bandejas e balancins. Montamos uma equipe com engenheiro mecânico, engenheiro eletricista, engenheiro de segurança para fazer os projetos, e temos um gerente específico para cada unidade de negócio”, estabelece.
E como ‘pau que dá em Chico também bate em Francisco’, a questão da mão de obra precisa de atenção mais do que especial. De acordo com Martins, a Engeloc forma profissionais e investe pesado em cursos com fabricantes em outros estados e capacitação de toda ordem, mesmo fora da base.
“Nada aqui vem pronto. Ou a gente forma ou traz mão de obra de fora, o que é bem mais difícil. Dessa forma precisamos diversificar a nossa atuação com novos núcleos de negócios para realmente atendermos ao mercado local em toda sua complexidade. Hoje temos um mega movimento de expansão local com mais de 60 empreendimentos imobiliários em Manaus, que tem um grande déficit habitacional, temos mudança da matriz energética para gás natural, obras de infraestrutura além de construção de usinas solares, o chamado “Linhão de Tucuruí, que é uma linha de transmissão que interliga o operador nacional de energia, hoje a caminho de Boa vista, e boa parte desse abastecimento é requerido de Manaus, para construção”, descreve Martins.
Do grupo Engeloc fazem parte a Engeloc Locadora, a Engeloc Engenharia, além da Jungle Energy, que leva soluções energéticas através de sistemas fotovoltaicos e sistemas autônomos para o interior do Amazonas, e a Engeloc Tools, uma solução disruptiva para região, onde o consumidor pode escolher suas ferramentas na palma da mão e recebê-las em 24 horas.
De Manaus a Santa Catarina
De um extremo a outro, chegamos ao município de Chapecó, no oeste de Santa Catarina, com 260 mil habitantes. E foi a vez de Jonas Rolim, diretor da Pampaloc, contar um pouco da sua rotina e do mercado em que atua.
No Sul, todos os fatores que impulsionam a especialização e a profissionalização do setor de locação de equipamentos ganham cada vez mais força. “Mesmo distante da capital, Chapecó apresenta um crescimento constante na construção civil, nas obras de infraestrutura e áreas industriais, bem como o agro. Aqui, como em todo o Brasil, os clientes estão cada vez mais exigentes, o mercado ainda mais competitivo e a necessidade de pessoal especializado é grande”, diz o diretor da Pampaloc.
Diversidade como valor competitivo
Jonas conta que iniciou no comércio com uma loja de material de construção contendo mais de 20 mil itens. E por gostar dessa diversidade, a locadora também é bastante eclética. “Temos mais de 150 produtos, desde aqueles apelidados de ‘pãezinhos de padaria’, como andaimes e seus acessórios, demolidores, até ferramentas e material leve. Estamos analisando a possibilidade de trabalhar com linha amarela também, pois o mercado aqui comporta,” diz.
E para ampliar o negócio, Jonas passou a produzir containers almoxarifado, numa área nas proximidades da cidade de Chapecó. “Nossos containers acabam por ser uma excelente propaganda para a Pampaloc. Além da flexibilidade nos projetos, que podem ser personalizados dentro de um determinado padrão, eles servem de porta de entrada para aluguel de outros itens, desde ferramentas e máquinas leves até equipamentos um pouco mais robustos”, explica.
Ainda sobre containers marítimos, Jonas explica que a Pampaloc, por estar localizada longe do litoral, o custo da logística acaba inviabilizando a operação. Além da construção civil em alta, Chapecó é um importante pólo da agroindústria, indústria metal mecânica e moveleira. “Atendemos a todos esses mercados”, conta o dono da Pampaloc. “Estamos no oeste de Santa Catarina e mais próximos da Argentina, que fica a 120 km, do que de Florianópolis que está a 550 km. Mas a expansão territorial de Chapecó tem sido grande e é justamente a distância do litoral que atrai investidores. As indústrias daqui não param de ampliar suas instalações, o que é ótimo”, detalha.
Assim como no Norte, os equipamentos locados na região Oeste de Santa Catarina precisam ser top de linha. “A diferença é que por aqui temos assistência técnica dos fabricantes e mais facilidade para capacitar a mão de obra, que também precisa se sentir valorizada e vislumbrar o futuro. Caso contrário é mesmo muito difícil reter, como em qualquer parte do país,” arremata Jonas.