Em toda obra de médio ou grande porte, seja uma edificação ou de infraestrutura, a logística do transporte vertical de materiais define o ritmo e a evolução do trabalho. Entenda os desafios de quem aluga esse tipo de equipamento
Um bom sistema de elevação de carga reduz esforços manuais, evita acidentes e permite que diferentes frentes de trabalho atuem simultaneamente, aumentando a produtividade e agilizando o cumprimento dos prazos. Por isso, os especialistas dizem que esses equipamentos são sempre protagonistas nos canteiros – gruas, guindastes, plataformas elevatórias, telehandlers, empilhadeiras, elevadores cremalheira, entre outros.
No entanto, trazem também desafios importantes tanto para os locadores quanto para construtoras e usuários finais, especialmente nos quesitos mão de obra e segurança. Marcos Cunzolo, diretor da Cunzolo Transportes e Remoções, especializada na locação de guindastes e plataformas, afirma que a elevação vertical de carga vive um momento de expansão já há alguns anos, acompanhada da ampliação do portfólio de equipamentos, com a entrada de muitas marcas chinesas no mercado brasileiro.
“Mas é preciso considerar que se trata de uma atividade na qual o risco está sempre presente e é bem alto”, afirma. “Ter equipamentos de qualidade, bem mantidos e com todos os dispositivos de segurança em perfeito funcionamento, é fundamental. Nós, locadores, somos responsáveis pela segurança técnica dos equipamentos e pela operação como um todo, em especial quando envolve guindastes de média e grande capacidade. Exatamente por isso o desafio de manter operadores rigorosamente treinados e qualificados é vital para a sobrevivência do negócio”, explana.
Segundo Marcos, os equipamentos com maior demanda de locação na Cunzolo são os guindastes articulados – conhecidos como guindautos ou Munck – e os guindastes de grande capacidade (a partir de 400 toneladas). Ele destaca, ainda, que a tecnologia tem avançado muito, não apenas nos dispositivos de segurança, mas também nos materiais empregados na estrutura, como o aço.
Na Top Gruas, de Belo Horizonte, os destaques são os elevadores cremalheira. Desde 2011, a empresa oferece soluções para transporte vertical de pessoas e cargas, incluindo esse equipamento, que é obrigatório em edifícios em construção com mais de 24 metros de altura. O portfólio inclui ainda gruas torre, mini gruas de várias capacidades e raios de giro, guinchos coluna e acessórios para içamento de materiais.
Para o engenheiro mecânico Alexandre Henriquez, proprietário da Top Gruas, a atenção à segurança no uso dos elevadores cremalheira é crucial e exige cumprimento rigoroso das normas (NR 18), que asseguram a integridade estrutural e o bom funcionamento das máquinas.
Quanto ao treinamento e à capacitação dos operadores, Alexandre observa que, embora não seja exigida uma especialização tão complexa como no caso das gruas e guindastes, é indispensável que os profissionais estejam muito bem preparados para lidar com situações de risco, realizar inspeções diárias e operar com extrema responsabilidade.
“No caso das gruas, a exigência é maior, com treinamento bem mais complexo. Além dos fabricantes, existem entidades que oferecem cursos com conteúdo especializado e abrangente”, explica. De acordo com ele, as gruas geralmente são locadas com operador. Mas, por causa do custo de contratação via CLT, das inseguranças políticas e econômicas e da bitributação, isso acaba encarecendo o valor do aluguel. Nesse caso, muitas vezes, a obra contrata os operadores diretamente.
Domínio do negócio
Custos altos de financiamento, desafios comerciais, contratação e capacitação de mão de obra e gestão de riscos operacionais são problemas comuns a todos os locadores, sejam de linha amarela ou de linha leve. No caso específico das empresas que trabalham com equipamentos de elevação de carga, esses fatores são ainda mais acentuados. Tanto Marcos Cunzolo quanto Alexandre Henriquez são enfáticos sobre a necessidade de controle rigoroso da vida útil das máquinas, investimentos constantes em manutenções preventivas e preditivas e a observância dos planos de manutenção recomendados pelos fabricantes.
Eles sugerem também o uso de softwares específicos para acompanhar, em tempo real, produtividade, consumo e possíveis falhas. Alguns fabricantes já oferecem esse suporte.
Outro ponto comum destacado pelos empresários é o preparo da área comercial para vendas consultivas.
“O suporte técnico faz toda a diferença num mercado competitivo e repleto de exigências normativas como o nosso”, diz o proprietário da Top Gruas. “O locador precisa entender que vende soluções, e isso envolve dar suporte desde o projeto – com a escolha do equipamento mais adequado para cada demanda – até a execução, além de acompanhar o desempenho e atender a qualquer necessidade do cliente de forma rápida e eficiente durante a obra”.
Profissionalismo
Os especialistas são categóricos em afirmar que a locação de equipamentos de transporte vertical de carga não é para amadores. Se por um lado, o setor exige máquinas cada vez mais sofisticadas, robustas e tecnológicas, por outro, os gestores devem ser capazes de manter os mais altos padrões de segurança, confiabilidade e eficiência operacional.
“Nesse cenário marcado por juros elevados e custo de financiamento crescente, as empresas precisam de mais refinamento nas estratégias de gestão, mantendo o foco na manutenção inteligente da frota, na logística otimizada e em operadores e mecânicos qualificados, que passem por reciclagens periódicas em entidades certificadas”, destaca Alexandre.
E Cunzolo arremata: “Jamais podemos perder de vista o cumprimento das normas técnicas NR 12, NR 18 e NR 35, todas voltadas para segurança e eficiência da operação. Esse é o fio condutor para o sucesso na nossa área”.