O martelete é um dos equipamentos mais demandados nas locadoras. Apaixonada por essas máquinas, a mineira Vanessa Soares Tárcia, da Potencial Marteletes, conta como transformou esse ativo em um negócio rentável
Capaz de fazer tarefas que vão desde pequenos rasgos em paredes até a demolição completa de estruturas, o martelete se diferencia por características de peso e potência. Os modelos de até 5 kg são mais fortes que uma furadeira e podem perfurar com ou sem impacto. Utilizados em serviços leves, eles são ideais para perfuração em altura e pequenos reparos.
Os de médio porte, entre 5 e 10 kg, normalmente são aplicados em quebra de pisos, cerâmicas e lajes, sempre em trabalhos na vertical. Já os mais pesados, de 15 a 30 kg, são destinados à quebra de alvenaria robusta e demolições de pisos de concreto. A escolha do modelo deve sempre considerar o tipo de serviço e o acessório adequado — talhadeira, ponteiro ou broca.
Foi nesse universo que, há 12 anos, Vanessa Soares Tárcia decidiu empreender no setor de locação no estado de Minas Gerais. O “bichinho da locação” a picou cedo: aos 17 anos, começou a trabalhar em uma locadora, substituindo um funcionário em férias, e acabou ficando três anos. Depois, foram mais 13 anos em outra empresa, lidando com todo tipo de máquina, até atuar por um bom tempo fora de Minas.
A paixão por esse mercado só aumentou, a ponto de levá-la à graduação em engenharia civil. Mais tarde, à frente da Potencial Marteletes, tornou-se especialista nesse nicho. “Optei por iniciar minha empresa justamente com marteletes porque são equipamentos versáteis, indispensáveis em qualquer obra. O retorno é rápido e, com os cuidados necessários, é possível prolongar a vida útil das máquinas”, diz.
Ela lembra que o início foi desafiador: “Comecei sozinha. Eu mesma vendia, transportava, treinava clientes, fazia as entregas e a manutenção. Muitos clientes me olhavam com desconfiança por ser mulher em um setor dominado por homens. Com o tempo, isso passou. Hoje, além da locação, sou procurada para consultorias e sanar todo tipo de dúvida”, relata.
A trajetória da Potencial Marteletes vai além de um negócio bem-sucedido: é um exemplo inspirador de liderança feminina na construção civil. Apesar dos percalços do mercado, da pandemia e de crises que afetaram o setor na última década, Vanessa consolidou a imagem de gestora inovadora, com sensibilidade, visão estratégica e compromisso. Hoje, a empresa diversificou o portfólio e atende a um mercado ainda mais amplo.
Cuidados na locação e devolução
Vanessa defende que todo locador deve avaliar cuidadosamente o tipo de serviço do cliente e indicar o equipamento correto. “É comum o cliente alugar um martelete para determinada função e usá-lo em outra, mais pesada, comprometendo a máquina. Por isso, a orientação é fundamental, e os testes antes da entrega devem ser feitos na presença do cliente”, orienta.
Ela recomenda inspeções preventivas rigorosas, nas quais são verificados cabos elétricos, gatilhos, sistema de impacto, punhos, talhadeiras, ponteiros e a lubrificação. Outro ponto essencial é fornecer acessórios adequados para cada modelo e orientar sobre o uso correto de EPIs. Na devolução, o locador precisa checar excesso de pó, testar o desempenho, conferir os acessórios e avaliar o desgaste dos ponteiros, que, se comprometidos, devem ser substituídos pelo cliente.
“A manutenção preventiva não só prolonga a vida útil do equipamento como garante a segurança do operador. A lubrificação segue as recomendações do fabricante, pois o mecanismo interno trabalha sob forte atrito. As escovas precisam ser inspecionadas, assim como cabos, plugs e interruptores, para evitar curtos e choques”, ressalta.
Conduta comercial e novos desafios
A transparência com o cliente é o pilar do negócio, segundo Vanessa. Quem pretende investir em locação de marteletes deve, em sua visão, priorizar relacionamento, qualidade e capacitação. “Aposte no cliente e na qualidade dos equipamentos e serviços. Trabalhe com marcas renomadas e peças originais. O mercado está cheio de genéricos mais baratos, mas de durabilidade muito menor, o que gera prejuízos ao locador”.
Ao comparar os últimos três anos da empresa, ela considera 2025 um ano atípico.
“Apesar da alta demanda da construção civil, sentimos a presença das franquias de locação, que dividem nossa fatia de mercado. Mas isso é positivo: nos obriga a inovar, ampliar a oferta e fortalecer o relacionamento e a qualidade.”
Para 2026, Vanessa vê boas perspectivas, sobretudo com o novo PAC, voltado para a construção civil. Mas também alerta para os impactos da reforma tributária e o cenário eleitoral. “Estamos nos preparando para ampliar ainda mais nosso leque de produtos, mas sempre com cautela e segurança”, conclui.