Danos recorrentes, mau uso, manutenção inadequada e contratos frágeis são as principais dores de cabeça, quando esses equipamentos retornam para a locadora
Um dos maiores problemas enfrentados por quem loca para construção civil é quando os produtos retornam danificados das obras. Além de afetar a operação, o problema gera prejuízos financeiros e, muitas vezes, desentendimentos com os clientes. Nesse cenário, as betoneiras estão entre os equipamentos mais alugados — e também entre os que mais sofrem com avarias. Por serem amplamente utilizadas e exigirem certo cuidado, tornam-se vulneráveis ao mau uso, à negligência e à ausência de manutenção preventiva nas obras.
Diante disso, é essencial que as locadoras estejam preparadas para prevenir e enfrentar esse tipo de situação. José Antônio Souza de Miranda Carvalho, diretor da Ergo Escoramentos, ex-presidente da Analoc – Associação Brasileira dos Sindicatos e Associações Representantes dos Locadores de Equipamentos, Máquinas e Ferramentas, e do Sindileq-MG, afirma que é comum os equipamentos voltarem das obras em condições muito piores do que quando foram entregues.
“No caso das betoneiras, escoras e andaimes, quase todas as avarias são mecânicas e decorrem de uso inadequado. E isso acontece mesmo com orientações básicas sendo fornecidas”, alerta. Entre os principais problemas relatados estão a queima do motor por ligações elétricas malfeitas e os amassados na cuba, provocados por impactos para soltar resíduos de concreto endurecido. Além disso, há casos em que as máquinas retornam sujas ao extremo, exigindo trabalho redobrado para limpeza e repintura.
“A falta de um simples enxágue com água após o uso pode levar à necessidade de reforma completa do equipamento. Infelizmente, esse cuidado básico nem sempre é seguido nas obras”, complementa José Antônio.
Contratos bem elaborados evitam dores de cabeça
Uma forma direta de mitigar os prejuízos é incluir cláusulas contratuais claras sobre responsabilidade por danos. O contrato deve prever que qualquer avaria resultante de uso indevido será de responsabilidade do cliente, incluindo os custos com reparos, substituição de peças ou pintura.
Também é essencial que o contrato seja assinado por uma pessoa legalmente autorizada a representar o cliente. “Já vi empresas terem prejuízos por conta de contratos assinados por funcionários sem poder de decisão. A formalização adequada protege a locadora juridicamente e facilita a cobrança”, explica José Antônio.
Prevenção é a melhor aliada Adotar medidas preventivas ajuda a reduzir significativamente os riscos e a prolongar a vida útil dos equipamentos. Veja as principais recomendações para quem aluga betoneiras: 1. Inspeções rigorosas: realize vistorias minuciosas antes da entrega e no retorno dos equipamentos, registrando danos preexistentes ou novos. 2. Documentação fotográfica: mantenha um histórico visual e escrito do estado dos equipamentos, com laudos de entrega e devolução. 3. Treinamento básico ao cliente: forneça instruções simples de uso e limpeza. Um manual ilustrado ou um vídeo curto pode evitar muitos problemas. 4. Visitas técnicas nas obras: inspecionar o uso das betoneiras no canteiro de obras ajuda a detectar falhas, orientar equipes e manter o cliente engajado com a conservação do equipamento. |
“Infelizmente, por falta de estrutura ou estratégia, alguns locadores não cobram pelos danos causados ao equipamento. Isso não pode acontecer”, alerta José Antônio. “Além de compensar o prejuízo, a cobrança educativa faz o cliente pensar duas vezes antes de usar o equipamento de forma indevida”.
Reforma pode ser mais vantajosa que o descarte
Apesar dos cuidados, é inevitável que, com o tempo, algumas betoneiras sofram desgaste ou sejam devolvidas em estado crítico. Em vez de descartar os equipamentos, muitas locadoras estão optando por enviá-los a empresas especializadas em reformas. É o caso da Protecfer, de Belo Horizonte (MG), que há mais de 25 anos atua na recuperação de betoneiras e outros equipamentos.
Com uma estrutura ampla, a empresa oferece desde a recuperação parcial até reformas completas, incluindo confecção de bojos, pintura, reparos mecânicos e revisão elétrica.
“Somos uma espécie de spa das betoneiras”, brinca Kimberly Lima, sócia-administrativa da Protecfer. “Elas chegam aqui destruídas e saem praticamente novas. Nosso foco é restaurar a vida útil das máquinas, com custo-benefício muito melhor para o locador do que comprar novo”.
A Protecfer também oferece um modelo inovador de permuta para locadoras com grandes lotes de betoneiras em más condições. Funciona assim: a cada seis máquinas recebidas, uma é devolvida totalmente reformada, sem custo. As demais são restauradas e colocadas à venda. “É uma forma eficiente de dar um novo destino às máquinas antigas, sem onerar o locador”, explica Kimberly. “Essa agilidade na negociação contribui para manter os pátios organizados e o estoque renovado”, diz.
O que você precisa saber antes de alugar betoneiras
Antes de alugar betoneiras, é importante conhecer os modelos mais comuns disponíveis no mercado, que costumam ter capacidades de 120, 250 e 400 litros. Esses equipamentos podem ser movidos a gasolina, eletricidade ou diesel, e estão disponíveis com cuba fixa ou basculante, dependendo da necessidade da obra.
No uso diário, alguns cuidados são essenciais para preservar o bom funcionamento da máquina. É fundamental evitar a sobrecarga de argamassa além da capacidade indicada, fazer a limpeza imediatamente após o uso para impedir o endurecimento do concreto, e jamais utilizar ferramentas pesadas para golpear a cuba, prática que causa avarias sérias.
Além disso, o contrato de locação deve conter cláusulas claras que estipulem a responsabilidade por danos, a aplicação de multa por atraso na devolução, a exigência de assinatura de um representante legal do cliente e a obrigatoriedade de devolução do equipamento em boas condições de limpeza e funcionamento. Por fim, quando a betoneira apresenta estrutura comprometida, é hora de avaliar a viabilidade de reforma ou substituição. Equipamentos com motor queimado ou peças danificadas podem, em muitos casos, ser recuperados com um custo até 60% menor do que o valor necessário para aquisição de um modelo novo — o que representa uma alternativa interessante para o locador que busca preservar o investimento.