O setor da construção civil deve consolidar 2024 com um crescimento de 4,1% em suas atividades. Para 2025, a expectativa é de uma desaceleração, com projeção inicial de expansão de 2,3%. Esses números foram destacados pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) durante uma entrevista coletiva realizada na manhã desta segunda-feira, 16 de dezembro.
De acordo com o presidente da CBIC, Renato Correa, isso demonstra que o setor avançou consideravelmente desde a pandemia, mas ainda há um espaço significativo para crescimento. Ele ressalta que estamos falando de habitação e infraestrutura no país, áreas que exigem atenção contínua para melhor atender à sociedade brasileira. Ou seja, apesar de todo o progresso, o presidente destacou que ainda estamos abaixo dos níveis registrados há dez anos.
Segundo Correa, é fundamental criar um ambiente de negócios favorável, a fim de manter um nível elevado de desenvolvimento tanto na infraestrutura quanto na habitação por um longo período. “Não adianta ter uma ascensão, como em 2014, para depois experimentar uma queda, como ocorreu posteriormente. O ambiente de negócios precisa ser cuidadosamente planejado e trabalhado, garantindo a continuidade dos investimentos ao longo do tempo”, frisou.
O desempenho foi impulsionado pelo aquecimento do mercado imobiliário, pela retomada de obras do Programa Minha Casa, Minha Vida, pelas obras relacionadas ao ano eleitoral, pelo dinamismo do mercado de trabalho e pela recuperação da economia brasileira.
Desafios
Apesar desse resultado, o setor enfrenta desafios significativos. O aumento nos custos com mão de obra e materiais, aliado às taxas de juros elevadas, são fatores que podem impactar os resultados de 2025.
“O cenário econômico ainda é marcado por incertezas, com a inflação projetada acima do teto da meta e juros que devem encerrar o primeiro trimestre em 14,25%. Além disso, há o aumento nos custos de materiais de construção e mão de obra”, explicou Ieda Vasconcelos, economista da CBIC.
Ela apresentou os resultados da construção civil em 2024 e as perspectivas para 2025, destacando indicadores como PIB, mercado imobiliário, mercado de trabalho e custos. O PIB do terceiro trimestre de 2024, divulgado pelo IBGE, revelou um crescimento de 4,1% no setor em relação ao ano anterior, impulsionado pela recuperação da economia, o dinamismo do mercado imobiliário – especialmente com o retorno do programa Minha Casa, Minha Vida – e um mercado de trabalho aquecido.
Quando anualizado, o crescimento da construção civil foi de 3,3% nos últimos quatro trimestres. No entanto, o terceiro trimestre registrou uma queda de 1,7% em relação ao segundo, devido à desaceleração nas obras de infraestrutura, impactadas pela conclusão de projetos ligados às eleições municipais. Desde 2019, o setor cresceu 21,2%, destacando seu papel fundamental na economia brasileira.
A construção civil ainda está cerca de 16% abaixo do pico de suas atividades no início de 2014, mas desde a pandemia tem apresentado resultados mais satisfatórios. Em 2024, as vendas de cimento acumuladas entre dezembro de 2023 e novembro de 2024 totalizaram 64,5 milhões de toneladas, um aumento de 4% em relação ao ano anterior. Além disso, uma sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com apoio da CBIC, revelou que, em outubro, a capacidade de operação das empresas do setor estava sendo utilizada em 70%, com uma média anual de 68%, o que é considerado um bom desempenho para a construção civil.
Bom desempenho
De janeiro a outubro de 2024, a produção de insumos para a construção civil cresceu 5,3%, e o comércio varejista de materiais aumentou 5%, refletindo a demanda por reformas e pequenas obras. O mercado imobiliário também teve bons resultados, com lançamentos e vendas de unidades crescendo 17% e 20%, respectivamente. No mercado de trabalho, o setor fechou outubro com 2,978 milhões de trabalhadores, um aumento de 4,7%, com crescimento em todos os segmentos da construção.
O mercado de trabalho na construção civil também apresentou resultados positivos em 2024. Entre janeiro e outubro, foram criadas mais de 230 mil novas vagas formais, com destaque para jovens entre 18 e 29 anos, que representaram cerca de 52% das contratações. O número total de trabalhadores com carteira assinada atingiu 2,978 milhões, alcançando o nível de 2014. O salário médio de admissão em outubro foi de R$ 2.335,69, o segundo maior entre os setores econômicos, superando a média nacional de R$ 2.153,18.
De janeiro de 2020 a outubro de 2024, a construção civil gerou 920 mil novos empregos, desempenhando papel fundamental na recuperação da economia pós-pandemia. De 2021 a 2024, o setor criou mais de 200 mil postos de trabalho anualmente. Em 2024, foram 230.856 vagas, uma queda de 8,77% em relação ao ano anterior, quando foram geradas 253 mil vagas.
A construção de edifícios e serviços especializados registraram crescimento, com aumentos de 8% e 5%, respectivamente, enquanto as obras de infraestrutura apresentaram queda de quase 39%, com a criação de 52 mil vagas devido ao encerramento de projetos antes das eleições municipais.
O mercado imobiliário também cresceu. De janeiro a setembro, as vendas de apartamentos novos aumentaram 20%, com 292.557 unidades comercializadas, enquanto os lançamentos cresceram 17,3%. O financiamento imobiliário também avançou: o FGTS financiou, nos primeiros dez meses de 2024, 516.207 unidades (alta de 28,1%), movimentando R$ 107,3 bilhões (crescimento de 37,8%), em comparação ao mesmo período de 2023. Já o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo financiou 469.531 unidades (alta de 12,7%), somando R$ 154,1 bilhões (aumento de 22,6%).
Custos elevados
Apesar dos avanços, os elevados custos da construção continuam a preocupar o setor. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) registrou alta de 6,34% nos últimos 12 meses, superando a inflação oficial de 4,87%. “A falta de mão de obra qualificada, o aumento dos custos e a elevação nas taxas de juros são fatores que merecem atenção e podem arrefecer o otimismo do setor”, analisou o presidente da CBIC, Renato Correia.
Para 2025, Ieda Vasconcelos destaca que o mercado de trabalho do setor deverá continuar em expansão, especialmente em função do bom dinamismo de lançamentos registrados em 2024. “O mercado imobiliário também continuará registrando resultados positivos, em função do segmento econômico, mas preocupa o crédito para a classe média”, indicou a economista.
Renato Correia acrescentou ainda que a construção civil é um setor essencial para a economia brasileira, e está pronto para continuar contribuindo com o desenvolvimento do país. “Mas os juros, em patamar elevado, prejudicam não somente a construção, mas também os segmentos produtivos da economia, em função de investimentos que são mais direcionados ao mercado financeiro”, concluiu.
Fonte: Agência CBIC